“Não deixem de fazer seus exames de rotina porque se houver qualquer descompensação no quadro você vai precisar entrar no hospital pela emergência e estará em situação mais grave”, alerta o presidente do Femipa
O medo de se expor ao novo coronavírus (Covid19) tem feito com que pacientes de doenças crônicas deixem de buscar tratamento em hospitais e clínicas especializadas e a situação preocupa médicos e especialistas da área de saúde. Pacientes com doenças cardiovasculares, pulmonares, diabetes, pacientes oncológicos, dentre outros, podem apresentar um desiquilíbrio na doença ao deixar de procurar o tratamento.
Segundo o SINDIPAR (Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Paraná), a maior parte dos doentes que estão nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais privados do Paraná é de pessoas com doenças crônicas ou graves, não com a Covid-19. Ainda não há um fechamento do percentual desses números, mas o sindicato afirma que esta é a realidade das UTIs particulares.
Para o presidente do SINDIPAR e da FEMIPA (Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná), Flaviano Ventorim, pacientes crônicos são maioria nas UTIs dos hospitais particulares do Estado porque estão com medo de entrar em um hospital para dar sequência ao seu tratamento.
“O medo de contrair o coronavírus tem afastado esses pacientes dos tratamentos e complicado alguns casos. E ainda temos que pensar também nas doenças oportunistas de inverno que estão chegando agora. Com a queda na temperatura, pneumonias e outras doenças respiratórias podem agravar os casos crônicos, principalmente na população idosa”, afirmou Ventorim.
O Paraná tem atualmente 4.200 leitos de UTI’s públicos e privados. E 1.900 são somente leitos privados e que não atendem o SUS, segundo o Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (Cnes).
Curitiba tem disponível 5.730 leitos gerais nos hospitais privados (sendo que 3.588 são associados do Sindipar, Femipa, Ahopar e Fehopar) e 927 UTIs (sendo que 618 são associados das entidades). Dos leitos associados, a ocupação média de UTIs já está entre 85% e 95%, com pacientes com outras doenças e pacientes com a Covid 19, conforme levantamento do Sindicato.
Preocupados com o avanço da doença e a divulgação de números recordes, representantes de hospitais privados, operadoras de saúde e demais representantes da área se reuniram, na semana passada, com a Secretária Municipal de Saúde, Márcia Hucçulak, para traçar estratégias de combate à doença.
Os hospitais concordam que há um risco iminente de um colapso nas redes de saúde pública e privada.
Na última quarta-feira (17), a estimativa de ocupação de leitos de UTIs na cidade era de 90%, tanto para atender pacientes com Covid-19, como as demais doenças e internações. Há hospitais que não estão trabalhando com UTIs específicas para o coronavírus.
De acordo com Ventorim, a maioria dos hospitais privados do Paraná está preparada para atender os pacientes durante a pandemia
“Desde que começaram os primeiros casos no País, os hospitais investiram em infraestrutura, equipes e fluxos para atender a população. Enquanto alguns construíram novas UTIs e áreas de emergência específicas para receber os pacientes com sintomas de doenças respiratórias ou com a Covid-19, outros investiram na alteração de fluxo, separando áreas distintas para receber pacientes com a doença e outras não relacionadas à Covid19”.
O Sindicato faz um apelo para que pacientes com doenças graves não deixem de buscar orientação médica jamais.
“Investimos muito em segurança para os profissionais e para os pacientes. Pedimos para pacientes com doenças crônicas não deixem o quadro agravar. Não deixem de fazer seus exames de rotina porque se houver qualquer descompensação no quadro você vai precisar entrar no hospital pela emergência e estará em situação mais grave”, disse Flaviano.
PACIENTES CRÔNICOS TEM O MEDO DA EXPOSIÇÃO À COVID-19
Para a médica infectologista Mireille Spera do INC (Instituto de Neurologia de Curitiba), paciente cardiológicos, oncológicos, neurológicos estão evitando ir ao hospital, com medo de contrair Covid-19.
“O problema é que esses pacientes acabam descontinuando seu tratamento e causando, muitas vezes um agravamento da doença, como quedas, infartos, derrames, dentre outras complicações. Temos percebido que houve uma redução nas internações para casos crônicos e neurológicos, que deixam de fazer retorno em seus cardiologistas, neurologistas, oncologistas, agravando assim sua saúde”, explica a médica.
A médica relata o caso de uma paciente que sentiu dores agudas na região torácica, mas que com medo de ir até o hospital, esperou por semanas para o atendimento de seu cardiologista no consultório. A situação já estava mais grave, sem saber, a paciente fez um infarto em casa e por não tratar em tempo hábil, acabou com uma lesão que deixou sequelas em seu coração.
Esse é um dos exemplos das várias consequências que pacientes crônicos podem ter ao abandonarem seus tratamentos.
“É muito importante que os pacientes conversem com seus médicos, diante de sintomas, para decidir se devem ou não ir para o hospital. Isso pode ser feito através de um telefonema, vídeo do whatsapp, importante explicar sua situação e saber qual é a orientação do médico. Pode salvar uma vida, portanto é preciso enfrentar o medo do coronavírus. Hoje em dias os hospitais estão preparados, com todos os protocolos de segurança que são orientados pela Anvisa e pelos órgãos internacionais de saúde”, explica a médica.
É o caso do INC que desde o início da pandemia tem adotado procedimentos para assegurar que pacientes crônicos não fiquem expostos ao novo coronavírus. As consultas são agendadas com distanciamento entre uma e outra para evitar aglomeração. Além disso as secretárias ligam para os pacientes antes das consultas para saber sobre os sintomas respiratórios.
O hospital orienta ainda para que paciente não tragam companhantes, salvo em situações de necessidade. Todos os funcionários usam equipamentos de segurança, máscaras e disponibilizam álcool gel, além de atendimento ambulatorial dirigido para pacientes que apresentem sintomas da Covid-19.
“É muito preocupante que pacientes com doenças mais graves, ou imunodeprimidos, deixem de fazer o tratamento. As consequências podem ser bem maiores. Temos visto pacientes oncológicos atrasem cirugias, quimioterapia, radioterapia, esperando que a pandemia passe em pouco tempo. Não existe data pra acabar, nem vacina, nem remédio, não dá pra descuidar da saúde. Converse com seu médico e entenda como pode chegar até o seu tratamento com segurança”, afirma a infectologista.
COVID-19 EM CURITIBA
Com dez novas mortes registradas nas últimas 24 horas, Curitiba anotou seu recorde diário e alcançou a marca de 109 mortes pelo novo coronavírus (Covid-19).
Também foram confirmados no período novos 51 casos, totalizando 2.885 ocorrências desde o dia 11 de março -data da primeira contaminação pela doença.
As informações foram confirmadas em boletim divulgado pela SMS (Secretaria Municipal da Saúde), neste domingo (21).
Atualmente 250 pessoas estão internadas em hospitais da capital paranaense com coronavírus, sendo 88 dessas pessoas em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva).
COVID-19 NO PARANÁ
No boletim com o maior número de casos confirmados e mortes pelo novo coronavírus (Covid-19) em um domingo, o Paraná chegou a marca de 14.336 ocorrências e 442 óbitos no acumulado.
Nas últimas 24 horas, foram confirmados novos 674 casos e 14 óbitos pela Covid-19. Como comparação, no último domingo houve o registro de 293 ocorrências e cinco mortes
As informações foram divulgadas pelo SESA (Secretaria de Estado da Saúde) neste domingo (21).
Fonte: FEMIPA, 22/06/2020