Com medo de buscar ajuda médica, vítimas de infartos e AVCs podem ter complicações importantes que levam à morte.
As medidas de precaução para evitar o contágio da Covid19 são essenciais durante a pandemia. Mas, a quarentena e uma preocupação justificada com o vírus não podem fazer a população se esquecer de outros problemas de saúde, que seguem acontecendo independentemente do novo coronavírus.
Alguns deles levam, inclusive, a uma morte rápida, caso não sejam tratados com rapidez, como por exemplo parte das doenças do aparelho circulatório. Dados de 2018 do Datasus mostram que as doenças ligadas à esse sistema, como infartos e AVCs, foram a causa de 27% (357,7 mil) das 1,31 milhão de mortes no país. Ficaram acima das mortes por câncer, cidentes/violência, doenças infecciosas/parasitárias ou de qualquer outro tipo.
Somente por doenças isquêmicas do coração foram 115,3 mil mortes, sendo 93,2 mil delas por infarto agudo do miocárdio. Outras 99,9 mil mortes foram creditadas à doenças cerebrovasculares. Ou seja, diante de sintomas de infarto ou de Acidente Vascular Cerebral (AVC), a recomendação dos especialistas é para que se busque o atendimento médico imediatamente, seja durante a pandemia ou não.
"Temos observado não só aqui no Brasil, mas no mundo, a diminuição de chegada de pacientes com suspeita de AVC aos hospitais. E quando vão, acabam chegando além do tempo para recuperar a pessoa (de três a quatro horas), estabelecer um tratamento para melhorar o quadro e evitar sequelas", explica a neurologista e diretora clínica do Instituto de Neurologia de Curitiba (INC), Vanessa Rizelio.
Sinais de AVC
Na dúvida, um teste rápido pode indicar que os sintomas apresentados pela pessoa seriam decorrentes de um AVC. De acordo com neurologista, a família precisa ficar atenta quando aos seguintes sinais:
"Se isso se confirmar corra o mais rápido possível em busca de atendimento", orienta Vanessa, que complementa: "As dores de cabeça quando acontecem de forma súbita e muita intensa, acompanhadas de outro sintoma, como vômitos ou dificuldade para falar ou enxergar, é caso emergencial, não deve esperar passar por si só", alerta.
A médica ressalta outras doenças neurológicas que necessitam de atendimento emergencial, como crises convulsivas. "Para quem faz um tratamento de epilepsia, já deve ter uma orientação, mas se nunca teve, a avaliação médica tem que ser imediata para ver se causou alguma alteração ou lesão no cérebro" .
Cuidado com o infarto
De acordo com o cardiologista do INC Cardio, Rafael Luís Marchetti, sintomas como dores no peito, falta de ar e palpitações são sinais de que o paciente pode estar sofrendo um infarto.
"As doenças cardiovasculares continuam acontecendo. Não hesite em sair de casa se tiver os sintomas para procurar atendimento. São casos que podem ser evitados. Ao invés de correr o risco de infartar em casa com medo de ir ao hospital, a pessoa acaba perdendo a chance de tratamento".
A dor torácica é o ponto chave, segundo ele. "Cerca de 30% das dores recebem um diagnóstico que pode ser um problema muscular, no esôfago, de menor risco. Mas a maior parte das dores de forte intensidade indica algum problema mais sério".
Entre outras doenças menos comuns, mas também fatais e com sintomas similares, estão a dissecção (ruptura) da aorta e a embolia pulmonar. Pelo cardiômetro, um aplicativo que calcula as mortes por doenças cardiovasculares desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, mais de 107 mil pessoas já morreram este ano, no país.
Rizelio diz que se os sintomas forem identificados, a recomendação é se busque, o quanto antes, uma emergência ou hospital. Caso não seja possível, chame o Samu (no telefone 192) ou serviço de ambulância particular (no caso de ter um). "Para fazer um atendimento em segurança, os hospitais têm feito ajustes, separando pessoas com sintomas gripais, quadros respiratórios para diminuir o risco de contágio dentro da instituição", diz.
Mantenha bons hábitos
Um aspecto importante, até pelo lado preventivo, é manter bons hábitos de alimentação e atividade física neste momento de menor mobilidade. "Com as academias fechadas e alguns parques também, as pessoas são colocadas em um certo sedentarismo e, ao mesmo tempo, consumindo mais alimentos ricos em sal, gordura e processados. É preciso minimizar isso, fazer algum exercício dentro de casa e cuidar da alimentação, principalmente quem tem diabetes e o colesterol elevado", comenta a neurologista Vanessa Rizelio.
O cardiologista Rafael Luís Marchetti lembra da recomendação da Sociedade Brasileira de Medicina e do Exercício e do Esporte (SBMEE) de praticar um exercício físico ao ar livre desde que observando sempre os protocolos de prevenção. "Ressaltem-se os cuidados para que o exercício seja feito de forma isolada (nunca em grupo), evitando aglomerações e contatos pessoais próximos, respeitando distância interpessoal adequada (pelo menos de um metro, segundo o Ministério da Saúde), além de manter os cuidados preconizados de etiqueta respiratória e de higiene", diz trecho do comunicado.
A SBMEE ressalta que a prática do exercício ao ar livre está recomendada, desde que não proibida por lei decretada pelo poder executivo, para determinada localidade ou região, por ter, "reconhecidamente, efeitos benéficos para a saúde física e mental". O cardiologista diz ainda que o confinamento também acaba elevando o nível de estresse e, por consequência, o risco de doenças cardiovasculares. "Hábitos adormecidos voltam, percebo no consultório. Pessoas voltaram a fumar, outras em tratamento de obesidade voltaram a ganhar peso. Um paciente ganhou 3 kg desde fevereiro. Não podemos prevenir uma doença e abrir a porta para outras, o equilíbrio é importante. Faça um hobby, se distraia", afirma.
Atenção especial aos idosos e doentes crônicos
Com recomendação expressa de isolamento social por fazer parte do grupo de risco da Covid-19, os idosos devem ser supervisionados rotineiramente. "Quem mora sozinho precisa que um familiar faça contato constante para evitar que passe mal e ninguém saiba ou que demore para alguém perceber. É necessário estabelecer uma supervisão presencial ou à distância", diz Vanessa.
A médica ressalta também que os doentes crônicos precisam manter os tratamentos e medicamentos recomendados para não ficarem mais vulneráveis às doenças crônicas que já possuam, mas também à Covid-19. "As doenças de base precisam ser controladas. Mantenha a hipertensão sob controle, a diabetes controlada, porque mesmo considerando contágio (pela Covid-19), existem melhores chances de recuperação", reforça o cardiologista Rafael Luís Marchetti.
Fonte: Sempre Família | Gazeta do Povo. 09/04/2020